O sorgo, tradicionalmente menos lembrado nas estratégias de cultivo da segunda safra, está conquistando espaço cada vez maior nas lavouras sul-mato-grossenses. A produção do grão no Estado deu um salto significativo entre as safras 2023/2024 e 2024/2025, mais que dobrando em volume colhido.
O aumento da produção é explicado pela nova finalidade de utilização para a produção de etanol e como alternativa para localidades onde o milho sofre mais com o clima.
De acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a área cultivada com sorgo em Mato Grosso do Sul saltou de 84,2 mil hectares na safra 2023/2024 para 125,1 mil hectares na safra 2024/2025 – um crescimento de 48,6%.
A produtividade média, por sua vez, aumentou de 2.819 quilos por hectare para 3.650 kg/ha. Com esses avanços, a produção estimada quase dobrou, passando de 237,4 mil toneladas para 456,6 mil toneladas em apenas um ano.
Os números colocam o sorgo em destaque na diversificação das culturas de inverno no Estado, superando o trigo, cuja área plantada caiu de 45,3 mil hectares na safra 2023/2024 para 30,8 mil hectares em 2024/2025.
Mesmo com o aumento expressivo da produtividade do trigo, de 992 kg/ha para 2.532 kg/ha, sua produção estimada permanece inferior à do sorgo, totalizando 78 mil toneladas.
Para especialistas, esse crescimento não é por acaso. Segundo o consultor técnico da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Sistema Famasul), Lenon Lovera, o sorgo tem se consolidado como uma alternativa viável, especialmente em regiões e cenários onde o milho enfrenta dificuldades.
“Quando a janela de plantio do milho é reduzida ou em regiões onde o cultivo enfrenta maiores desafios, o sorgo tem se consolidado como uma alternativa viável para os produtores rurais”, explica.
Lovera destaca as vantagens agronômicas do grão, especialmente seu ciclo mais curto, que varia entre 90 e 120 dias, o que permite colheitas antes do agravamento da seca, comum no cerrado sul-mato-grossense.
“O sorgo é menos exigente em termos de água e nutrientes, o que o torna indicado em áreas com menor quantidade hídrica. É um cereal versátil, com aplicação tanto na nutrição animal quanto na alimentação humana”, afirma.
Além disso, o sorgo vem ganhando relevância na indústria local. A Inpasa, biorrefinaria instalada em Sidrolândia, já utiliza o grão na produção de etanol e seus derivados.
“Essa iniciativa contribui de forma significativa para o fortalecimento da cadeia produtiva local, ao incorporar uma cultura alternativa ao milho. O sorgo se destaca por sua adaptabilidade, menor exigência de insumos e alinhamento com práticas agrícolas mais sustentáveis, seguindo modelos de produção que promovem eficiência econômica e responsabilidade ambiental”, destaca Lovera.
DIVERSIFICAÇÃO
O milho ainda é o principal cereal produzido na segunda safra em Mato Grosso do Sul, mas vem passando por um processo de diversificação. Dados do Siga MS indicam que, para a safra 2024/2025, o milho ocupará uma área de cerca de 2,103 milhões de hectares, mantendo-se como principal cultura de inverno. No entanto, essa área corresponde a apenas 47% da superfície destinada à primeira safra, a de soja.
Esse encolhimento se deve, principalmente, ao aumento dos custos de produção e à instabilidade climática enfrentada nos últimos anos.
“As decisões dos produtores estão condicionadas ao cenário econômico, especialmente aos custos de produção, além das condições climáticas, que influenciam diretamente a viabilidade e a rentabilidade da cultura”, analisa Lovera.
Nesse cenário, o sorgo surge como uma opção mais resiliente e econômica, com menor exigência hídrica e nutricional e boa aceitação nos mercados de alimentação animal e etanol. E os dados confirmam essa tendência na safra 2021/2022: a área plantada no Estado era de 79,7 mil hectares.
Além do sorgo, outras culturas de inverno também ocupam parcelas da safrinha no Estado, como a aveia branca, cultivada principalmente no sul, em municípios como Ponta Porã, Laguna Carapã, Dourados, Amambaí, Aral Moreira e Maracaju. A estimativa é de cerca de 35 mil hectares cultivados com aveia em 2024/2025.
MILHO
Para o milho em andamento, a expectativa é de uma produtividade média de 80,81 sacas por hectare, com produção total de aproximadamente 10,199 milhões de toneladas. Segundo Lovera, ainda existe potencial para ampliação da área de milho, mas os desafios logísticos, econômicos e climáticos tornam o cenário complexo.
“Embora exista potencial para a ampliação da área de produção de milho em Mato Grosso do Sul, as decisões dos produtores estão condicionadas ao cenário econômico, especialmente aos custos de produção, além das condições climáticas”, ressalta.
Nesse contexto, o sorgo deixa de ser apenas uma alternativa emergencial e passa a figurar como elemento estratégico na composição da produção agrícola sul-mato-grossense.
Correio do Estado