A Embrapa Amazônia Oriental apresenta uma série de quatro cartilhas sobre práticas de cultivo de macaxeira, feijão-caupi, milho e batata-doce biofortificados, variedades ricas em nutrientes essenciais tais como ferro, zinco e pró-vitamina A. São guias técnicos, de leitura acessível, voltados especialmente para agricultores familiares e técnicos de extensão que atuam com essas comunidades.
A série pode ser acessada gratuitamente e foi desenvolvida com apoio da Rede BioFORT e estão alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), especialmente à meta de erradicar a fome e melhorar a nutrição em populações em situação de vulnerabilidade (ODS 2).
O objetivo é ampliar o acesso a alimentos mais nutritivos, com foco em pequenos agricultores e técnicos que atuam diretamente com comunidades rurais. Com a produção desses alimentos, agricultores familiares têm uma alternativa a mais de produção de alimentos diferenciados, desenvolvidos como estratégias de segurança alimentar, diversificação de renda, combate a fome oculta e a desnutrição.
“A biofortificação é uma estratégia eficaz para melhorar a qualidade da alimentação onde o acesso a alimentos saudáveis é limitado. São cultivos enriquecidos nutricionalmente, sem mudar os hábitos alimentares tradicionais”, explica o analista da Embrapa Jaime Carvalho, primeiro autor das três publicações. Ele informa ainda que as cartilhas são de leitura acessível e abordam boas práticas agrícolas para cultivos adaptados à região, incluindo dados técnicos, orientações práticas e ilustrações, facilitando a adesão por técnicos agrícolas e produtores familiares;
Além de orientações técnicas, as cartilhas destaca cuidados com o solo, irrigação, controle de pragas e doenças, bem como práticas adequadas para a colheita e pós-colheita.
Desde 2017, a Embrapa, por meio do Núcleo de Responsabilidade Socioambintal (Nures) vem promovendo ações de transferência de tecnologia com esses cultivos. A série de cartilhas tem como autores Jaime dos Santos Carvalho, Adriana Paula Soares Ferreira, Hiallel Hanna Carneiro dos Santos, Vladimir Bomfim Souza e Vitor Guilherme de Souza.
Essas iniciativas demonstram o potencial dos biofortificados como ferramenta para fortalecer a agricultura familiar, melhorar a nutrição da população e contribuir para o desenvolvimento sustentável das comunidades rurais.

Macaxeiras ricas em provitamina A
Também conhecida como mandioca de mesa ou aipim, a macaxeira biofortificada se diferencia por conter, em média, nove microgramas de betacaroteno (provitamina A) por grama de raiz fresca, um nutriente ausente nas variedades de polpa branca. Além disso, é rica em amido e contribui com vitaminas do complexo B, cálcio, fósforo e potássio.
Os autores destacam que a macaxeira biofortificada é uma aliada importante na melhoria da nutrição de populações vulneráveis, especialmente em áreas rurais da Amazônia e do Nordeste. Por ser comum às mesas, o alimento tem fácil aceitação, pois respeita a cultura alimentar das populações e oferece possibilidade de renda extra, unindo segurança alimentar e diversificação de renda.
Apresenta as cultivares BRS Gema de Ovo, BRS Jari e BRS Dourada, com teores elevados de amido e betacaroteno, podendo chegar a uma produtividade média de 41 toneladas por hectare.
Feijão-Caupi Biofortificado é nutrição e renda para a agricultura familiar
A cartilha destaca o feijão-caupi como uma solução eficaz para melhorar a segurança alimentar e a renda de agricultores familiares no Brasil, especialmente nas regiões Norte e Nordeste. As cultivares apresentam teores elevados de ferro, zinco e provitamina A, nutrientes essenciais para combater a desnutrição e fortalecer o sistema imunológico.
Além dos benefícios nutricionais, o feijão-caupi biofortificado possui qualidades agronômicas que favorecem a produção em pequenas propriedades. Variedades como BRS Aracê, BRS Tumucumaque e BRS Xiquexique são adaptadas a diferentes condições climáticas e apresentam alta produtividade, resistência a pragas e doenças, e boa aceitação no mercado.
Milho BRS 4104 reforça a autonomia da agricultura familiar
O milho biofortificado possui altos teores de provitamina A, especialmente betacaroteno, essencial para a saúde ocular, o sistema imunológico e o desenvolvimento infantil.
Com 25 páginas ilustradas, a cartilha aborda desde a escolha do solo e preparo da área até o manejo da cultura, controle de pragas e doenças, colheita e armazenamento. A BRS 4104 possui concentrações de provitamina A de até três vezes mais que os milhos comuns, epresentando um avanço significativo no combate à deficiência dessa vitamina em populações vulneráveis.
É ainda uma variedade de polinização aberta, permitindo que os agricultores familiares produzam suas próprias sementes, reduzindo custos e promovendo a autonomia. Além disso, seu cultivo contribui para a diversificação da produção agrícola e para a melhoria da qualidade nutricional dos alimentos consumidos pelas famílias rurais.
Batata-doce traz cores intensas e saúde à mesa
Voltada para agricultores familiares interessados em produzir alimentos mais nutritivos e sustentáveis, a publicação apresenta orientações técnicas sobre o cultivo da variedade Beauregard, destacada por seu alto teor de betacaroteno, precursor da vitamina A, essencial para a saúde humana.
Com 23 páginas ilustradas, a cartilha aborda desde a escolha do solo e preparo da área até o manejo da cultura, controle de pragas e doenças, colheita e armazenamento. O material também reitera a importância da biofortificação como estratégia para combater a “fome oculta”, causada pela deficiência de micronutrientes na dieta.
A cartilha está disponível gratuitamente no site da Embrapa e pode ser acessada por meio do link:
O que são alimentos biofortificados? ![]() |
Biofortificados promovem alimentação de qualidade e geração de renda
A Rede BioFORT atua no desenvolvimento e divulgação de cultivares diferenciadas em nutrientes, se comparados as cultivares comuns. É coordenada pela Embrapa e integra diversas instituições de pesquisa, com o objetivo de desenvolver e disseminar cultivares de alimentos com teores mais elevados de ferro, zinco e vitamina A, entre outros. Atua no desenvolvimento de variedades adaptadas às diferentes regiões do Brasil, incluindo a Amazônia Legal, e promove o uso desses alimentos como ferramenta estratégica de combate à fome oculta e a desnutrição.
Fome oculta – A biofortificação é uma estratégia de combate a chamada fome oculta — forma silenciosa de desnutrição causada pela falta de micronutrientes essenciais, mesmo quando há consumo calórico suficiente.
Alimentação escolar e políticas públicas
A inserção de alimentos biofortificados na alimentação escolar representa uma política eficaz de combate à desnutrição infantil, respeitando hábitos regionais e fortalecendo a agricultura familiar. A produção desses cultivos também pode gerar renda extra para os agricultores, especialmente quando incorporada aos programas de compra institucional, como o PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) e o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos). Para os gestores municipais, adotar esses alimentos na merenda é uma estratégia de impacto social e econômico direto, beneficiando toda a cidade.