A pesquisa agrícola brasileira lança uma nova cultivar de amora-preta focada no mercado de consumo in natura. Desenvolvida pela Embrapa, a BRS Terena combina alta produtividade, sabor mais doce, baixa acidez e longa conservação pós-colheita, características que trazem vantagens a agricultores e consumidores. Com produção média de 1,2 kg por planta, com picos de produção de até 1,8 kg, a BRS Terena oferece aos produtores um potencial de lucro líquido em torno de R$ 30 mil por hectare, além de vantagens operacionais, como menor densidade de espinhos em relação à cultivar Tupy, o que facilita o manejo e a colheita.
“A BRS Terena é uma excelente opção para produtores que querem investir no mercado de frutas frescas. Seu sabor mais doce do que ácido e o tempo de prateleira prolongado fazem com que as frutas da cultivar sejam mais atrativas ao mercado”, conta a pesquisadora Maria do Carmo Bassols Raseira, da Embrapa Clima Temperado (RS), que é coordenadora do projeto de melhoramento de amoras-pretas .
Diferenciais em sabor e qualidade pós-colheita
O sabor é um dos principais destaques da BRS Terena. Comparada a outras cultivaress, como a BRS Tupy, a Terena apresenta um sabor doce-ácido, com teor de sólidos solúveis (Brix) de 10,3º, superior aos 8,9º da Tupy e aos 9,5º da BRS Cainguá. “O mais importante é que a proporção de açúcar em relação à acidez (responsável pela sensação doce ao paladar) é quase o dobro do obtido na cultivar Tupy”, explica Maria. Isso se traduz em uma fruta mais doce, ideal para o consumo in natura, que atende à preferência do mercado brasileiro por frutas de menor acidez.
Outro diferencial é a capacidade de conservação. Em testes realizados no Laboratório de Fisiologia de Pós-colheita da Embrapa Clima Temperado, a nova cultivar manteve sabor, cor e firmeza durante 10 dias de armazenamento refrigerado, enquanto outras cultivares apresentaram maior degradação nesse período. As frutas observadas foram colhidas com ponto de maturação comercial. “Como o experimento foi por dez dias, pode ser que ainda conserve por mais tempo”, analisa Raseira.
Foto: Francisco Lima
Adaptação e regiões indicadas para cultivo
A nova cultivar é indicada para as regiões Sul e Sudeste e algumas áreas do Nordeste do Brasil, onde já existem cultivos de amoreira-preta, podendo atingir altas produtividades. Andrea de Rossi, pesquisadora da Embrapa Uva e Vinho (RS) que lidera os experimentos para validação da cultivar em Vacaria (RS), na região dos Campos de Cima da Serra, confirma que a cultivar atingiu produções de 1,8 kg/planta na média de quatro safras avaliadas, superando a Tupy em algumas condições.
Lançamento
No dia 27 de novembro, durante Dia de Campo na Estação Experimental de Fruticultura de Clima Temperado, em Vacaria (RS), a BRS Terena será apresentada aos produtores rurais. Após o lançamento, as mudas estarão disponíveis para compra em viveiros licenciados, como o Frutplan Mudas, em Pelotas (RS), e o Guatambu Viveiro de Mudas, em Ipuiúna (MG).
Como parte da tradição do programa de melhoramento genético, o nome da cultivar homenageia os povos indígenas brasileiros, neste caso, o povo Terena. É resultado de uma parceria entre dois centros de pesquisa da Embrapa localizados no Rio Grande do Sul: Embrapa Clima Temperado e Embrapa Uva e Vinho.
Histórico do melhoramento genético de amoreiras-pretas
O desenvolvimento da BRS Terena é resultado de décadas de pesquisa da Embrapa, que começou a introduzir amoreiras-pretas no Brasil nos anos 1970. As primeiras cultivares de amoreira-preta, de origem norte-americana, foram introduzidas no Brasil em 1972, com a implantação da primeira coleção semi-comercial em 1974, no município de Canguçu (RS).
A primeira cultivar lançada a partir do melhoramento foi a Ébano, em 1981, embora o programa de melhoramento genético tenha sido registrado oficialmente apenas em 1983, com o lançamento da segunda cultivar, a Negrita. Desde então, o programa lançou as cultivares Guarani (1988), Tupy (1988) – ainda a mais cultivada no Brasil -, Caingangue (1992), BRS Xavante (2002) e, mais recentemente, a BRS Xingu (2015), a BRS Cainguá (2018), a BRS Ticuna (2023) e a BRS Karajá (2024).
A Tupy, por exemplo, ainda é a cultivar mais plantada no Brasil, graças à sua adaptação ao manejo diferenciado para a colheita programada (escalonamento para época mais lucrativa ao produtor) e à produtividade. No entanto, novas cultivares, como a BRS Terena, trazem avanços importantes, como sabor mais doce, maior conservação e facilidade de manejo.
Conheça as cultivares de amora-preta da Embrapa
Atualmente, a Embrapa dispõe de cinco cultivares de amoreira-preta lançadas nos últimos dez anos e licenciadas junto a viveiristas para comercialização de mudas. O trabalho de melhoramento segue em andamento na busca por reunir várias características numa única cultivar. A ideia também é ofertar diferentes cultivares, algumas mais precoces e outras mais tardias do que a Tupy, de maneira a ampliar o período de colheita.
Com relação ao sabor, o objetivo é desenvolver materiais com relação açúcar-acidez mais alta com foco no mercado in natura. “O mercado brasileiro prefere sabor mais doce”, afirma Raseira. Além disso, o programa de melhoramento busca aliar outra característica relevante ao campo: a ausência de espinhos, reduzindo dificuldades na colheita.
Porém, segundo a pesquisadora, a maioria das variedades sem espinhos possui sabor amargo predominante, sendo mais adequadas à indústria, como é o caso das cultivares Ébano e BRS Xavante. “A BRS Karajá tem sabor menos amargo, mas ainda não chegamos no que queríamos. A cada geração, vamos avançando um pouco mais”, explica.
O trabalho também busca o desenvolvimento de cultivares remontantes ou reflorescentes – que podem produzir no outono e no verão, mesmo sem tratamento especial como ocorre com a Tupy. Além disso, também são valorizados aspectos como tamanho da fruta, resistência a doenças, produtividade igual ou maior do que a Tupy, tamanho pequeno das sementes, firmeza e conservação pós-colheita.
Amora-preta BRS Xingu (2015)
Desenvolvida para condições de inverno ameno, destaca-se por sua maturação mais tardia do que a Tupy, que permite estender o período de colheita em duas semanas, em média. Em avaliações durante seis safras, também apresentou produção média de 800g a mais de frutas por planta do que a cultivar Tupy, considerada referência.
A firmeza garante boa conservação pós-colheita. É indicada para os estados do Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, na região Sudeste; e Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, na região Sul. A BRS Xingu pode ser utilizada para comercialização in natura ou para elaboração de doces, principalmente geleias, desidratados, sucos, iogurtes e sorvetes.
Amora-preta BRS Cainguá (2019)
Tem excelente aceitação para o consumo in natura devido à ótima aparência e ao equilíbrio entre acidez e açúcar. Precisa de 200 a 300 horas de acúmulo de frio hibernal (temperaturas iguais ou menores que 7,2 °C) para apresentar uma boa produção.
Foi desenvolvida pela Embrapa em parceria com outras instituições.
Amora-preta BRS Ticuna (2023)
Cultivar altamente produtiva destinada ao processamento, como opção para a produção de geleias e sucos, por apresentar alta acidez. Um hectare pode render até 20 toneladas de frutas, sendo considerada uma das cultivares mais produtivas, o que faz superar a cultivar referência que é a BRS Tupy.
É resistente a doenças e indicada para o cultivo em sistema orgânico, sendo necessário o controle de ferrugem e cuidados com a mosca das frutas (Anastrepha fraterculus) e com a Drosófila da Asa Manchada (Drosophila suzukii). É adaptada aos estados da região Sul do Brasil.
Amora-preta BRS Karajá (2024)
Cultivar sem espinhos, o que facilita o manejo, mas com moderada acidez. Suas frutas, de coloração preto-avermelhada, são de tamanho médio – massa média de 4,5 g por fruta – e formato ovalado, com sabor doce-ácido levemente amargo.
São recomendadas para congelamento, processamento ou consumo fresco. A produção média é de 1,4 kg por planta.
Amora-preta BRS Terena (2024)
Com características como sabor mais doce, longa conservação e fácil manejo, representa um avanço significativo para o cultivo de amoreiras-pretas no Brasil e promete ser uma aliada importante para produtores em busca de qualidade e lucro.
Com produção média de 1,2 kg por planta, com picos de produção de até 1,8 kg, a BRS Terena oferece aos produtores um potencial de lucro líquido superior a R$ 30 mil por hectare, além de vantagens operacionais, como menor densidade de espinhos, que facilita o manejo e a colheita.