Intensificar a cooperação técnica com as instituições de pesquisa e empresas agrícolas da Bolívia foi um dos compromissos assumidos pela Embrapa durante sua participação no Fórum Empresarial Bolívia-Brasil, realizado nos dias 8 e 9 de julho, em Santa Cruz de la Sierra. Soluções tecnológicas como Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), Fixação Biológica do Nitrogênio (FBN), Sistemas Agroflorestais, além de adoção de protocolos, métricas e indicadores para sistemas de produção e de certificação de baixa emissão de carbono para carne, soja, trigo, café e leite, cooperação técnica na região Amazônica nas mais diversas cadeias produtivas, com destaque para as boas práticas de produção e agroindustrialização da castanha e o melhoramento genético da castanheira foram alguns temas apontados pela diretora de Negócios, Ana Euler, como potenciais para a ampliação da parceria.
Outro tema considerado para ampliar a cooperação técnica já existente entre Brasil e Bolívia no campo da pesquisa agropecuária foi a inclusão digital, com a possibilidade de oferta de cursos traduzidos para o espanhol pela plataforma e-campo para os agricultores e extensionistas do país sul-americano.
Especificamente sobre a castanha, a Embrapa participou, no dia 8 de julho, do Fórum Bilateral da Castanha, com o objetivo de valorizar a imagem e discutir estratégias para elevar o valor do produto no mercado global, contribuir com a proteção e o uso sustentável do bioma amazônico, gerar renda, bem-estar e saúde das comunidades da floresta.
Entre os acordos de cooperação tratados para a pesquisa com a castanha, representantes das empresas bolivianas demandaram ações de pesquisa e transferência de tecnologia para estudos sobre a concentração de selênio e brometo de metila nas amêndoas e o melhoramento genético para os plantios. As empresas bolivianas demandaram parceria com Embrapa e enfatizaram a necessidade de formar quadros técnicos na área de processamento industrial de castanha.
Países assinam Declaração de Intenções
Os participantes do Fórum Bilateral da Castanha assinaram a Declaração de Intenções de Cooperação durante o Fórum da Castanha entre Brasil e Bolívia, incluindo a identificação de estratégias de promoção da imagem do produto baseada em quatro pilares: narrativa (castanha como símbolo da Amazônia e seus atributos sociais, ambientais, nutricionais), evidências científicas (produção de pesquisas sobre características e benefícios da castanha), promoção (divulgação comercial das qualidades nutricionais e socioambientais da castanha) e ação coletiva (atuação conjunta para a promoção do setor).
“Todos os participantes concordaram que há necessidade de um trabalho conjunto para posicionamento da castanha no mercado internacional, destacando seu diferencial por ser uma castanha produzida em florestas nativas na Amazônia, única em bases extrativistas (indígenas, campesinos), com enormes benefícios energético, proteico, ambiental e social”, afirmou a diretora da Embrapa.
No documento final, além dos quatro pilares para a promoção do produto no mundo, os empresários e cientistas presentes reafirmaram o seu compromisso com o desenvolvimento econômico sustentável, a valorização dos recursos naturais e o bem-estar das comunidades. “Unidos, continuaremos a promover a castanha como símbolo de boa nutrição, como exemplo de produto compatível com a floresta, e como expressão de nossa forte relação bilateral”, diz o documento.
A Embrapa no Fórum
A Embrapa foi convidada pela APEX Brasil para integrar o Fórum Empresarial Bolívia Brasil, por intermédio da diretora de Negócios. Foram dois momentos importantes: no dia 8 de julho, no Fórum Bilateral da Castanha, com empresários, cientistas e extrativistas da castanha dos dois países. E, no dia 9 de julho, com a participação de 320 representações de diferentes setores produtivos, como alimentos, bebidas e agronegócios; adubos e fertilizantes; extrativismo, sobretudo da castanha-do-brasil; petróleo e gás; açúcar e álcool; eletricidade; mineração; transporte; e máquinas e equipamentos.
Também as indústrias de fármacos; cosméticos; casa e construção; elétricos e eletrônicos; telecomunicações e tecnologia da informação; calçados e moda estarão representados no Fórum, além do artesanato e da economia criativa. No Fórum Bilateral da Castanha (foto abaixo), Ana Euler destacou o importante papel da castanha-do-brasil, como potencializadora da bioeconomia inclusiva na Amazônia, com destaque para o desenvolvimento sustentável de territórios de povos e comunidades tradicionais que são o primeiro elo desta cadeia de produtiva.
A Embrapa contribui para o posicionamento e valorização deste produto a partir de evidências científicas resultados de sua pesquisa histórica com a castanha que gerou uma coleção de quatro volumes disponíveis para acesso público.
Ela mostrou os diversos conhecimentos e tecnologias desenvolvidas pela Embrapa que versão sobre a sua ocorrência, potencial para pagamento de serviços ambientais (PSA), boas práticas para a coleta sustentável; as práticas silviculturais para a melhoria da produção, como o corte de cipós e mapeamento; o método para a produção de mudas; a expansão e a renovação de castanhais (programa Castanha na Roça); seleção de matrizes para melhoramento genético; revisão de padrões de classificação; uso de app para rastreabilidade (Agrotag) e inteligência artificial.
Na tarde de terça-feira, 9/7, a diretora Ana Euler participou do painel que discutiu a inovação e sustentabilidade na agricultura e na pecuária. “O futuro da agricultura que alimentará o mundo do amanhã depende do avanço científico e tecnológico. Só o avanço científico e tecnológico terá capacidade de prover alimentos, em 2050, para uma população estimada de 9,3 bilhões de pessoas, aumentando a produção de alimentos, mas ao mesmo tempo conservando os recursos naturais, tornando a agricultura resiliente aos vários desafios futuros, especialmente associados as mudanças climáticas”, afirmou a diretora durante participação no painel.
Entre os temas científicos destacados, enfatizou a importância de se produzir mais, com menos impactos, considerando eixos temáticos como a transição nutricional associada a saúde única, a transição energética e as mudanças climáticas, a inclusão social e digital, considerando a soberania e a segurança alimentar. Em sua fala, a diretora demonstrou a importância da ciência agropecuária para o futuro.
“Em 30 anos o Brasil deixou de ser importador para ser um grande exportador. Tomando a soja como exemplo, conseguimos, a partir do investimento em ciência e tecnologia, aumentar em quase 580% a nossa produtividade, com um aumento de área plantada de menos de 140%”, exemplificou, atribuindo os resultados alcançados ao efeito poupa-terra da pesquisa.
“O Brasil exporta para mais de 180 países. Até julho já foram abertos 76 novos mercados para os produtos agropecuários brasileiros. China e União Europeia são os nossos maiores parceiros comerciais”, complementou.
Atualmente, a Embrapa possui três acordos de cooperação com a Bolívia, entre eles, um assinado com o governo boliviano para a promoção da inovação nas cadeias produtivas agrícolas e agroindustriais; outro com a Fundacruz para o desenvolvimento e transferência de tecnologia para cultivares de soja convencional e transgênica.
Um novo acordo específico para a cooperação técnica para cadeia da castanha foi tema do diálogo bilateral. “Consideramos também a COP 30 como uma importante oportunidade para o posicionamento da região sul-americana como líder na produção sustentável, considerando a redução das desigualdades sociais, o fortalecimento da segurança e soberania alimentar e a conservação ambiental e valorização da biodiversidade”, finalizou.
Ao discursar na noite desta terça-feira, 9 de julho, no encerramento do Fórum Empresarial Bolívia-Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ressaltou a importância dos dois países ampliarem as relações em diversos campos. Lula também destacou as boas perspectivas no campo da sustentabilidade, algo fundamental em função das mudanças climáticas em todo o planeta.
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