Com um abate recorde de 3,9 milhões de cabeças de bovinos, Mato Grosso do Sul fechou 2024 com uma produção de 1,068 milhão de toneladas, superando em 12,37% as 951,3 mil toneladas registradas pelas indústrias frigoríficas em 2023. Os números são da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc).
Em 2023, o Estado abateu 3,5 milhões de cabeças de bovinos. Em relação a 2024, o crescimento de abates em MS foi de 12%, com um aumento de 6,5% no abate de fêmeas, que respondeu por 46% dos animais abatidos nos 12 meses do ano passado.
Para Rogério Beretta, secretário-executivo de Desenvolvimento Econômico Sustentável da Semadesc, o crescimento na produção é creditado ao aumento da tecnologia utilizada no campo, proporcionando a redução da idade do abate e, com isso, levando ao crescimento também da taxa de desfrute na atividade pecuária, que é um indicador de eficiência. “Como exemplo, temos um aumento de 15% no abate de animais dente de leite”, explica.
ABATE PRECOCE
Em 2024, segundo informações da Semadesc, do total de animais abatidos no Estado, 1,534 milhão foi classificado como novilho precoce. Desses, 1,211 milhão recebeu R$ 117,5 milhões em incentivos do programa governamental Precoce MS. A diferença entre animais abatidos e animais incentivados é que um porcentual foi desclassificado por falta de idade, peso ou acabamento de gordura. “O alto volume de animais que recebeu o incentivo – de 79% – demonstra a seriedade do programa”, avalia Beretta.
Para ele, o grande beneficiado com isso é a indústria do segmento, que recebe de forma garantida animais jovens, com bom acabamento de carcaça e uma cobertura ideal de gordura, a fim de atender ao mercado consumidor.
O volume de carne produzida dentro do Precoce MS em 2024 – 338 mil toneladas – representou 31,6% do total produzido e cresceu 11,5% em relação ao ano anterior. O programa, que ganhou alterações em dezembro de 2023, busca valorizar a produção de animais com qualidade de carcaça superior e o uso de boas práticas agropecuárias. Passou, desde então, a avaliar a propriedade e o produto para concessão do benefício fiscal.
Em 2023, essa proporção numérica de animais classificados como precoce era de 31% do total de animais abatidos. Naquele ano, o abate na categoria chegou a 1,087 milhão de cabeças, com uma produção de 303,46 mil toneladas e com os produtores recebendo R$ 116,9 milhões em benefícios.
EXPORTAÇÕES DE CARNE
No ano passado, o agronegócio de Mato Grosso do Sul exportou US$ 9,5 bilhões, com a China na dianteira, respondendo por 47,1% do faturamento com as exportações.
A participação do agronegócio representou 95,5% em relação a tudo que o Estado exportou. A das carnes, por sua vez, foi de 17,9% (US$ 1,71 bilhão), representando um crescimento de 24% de 2023 para o ano seguinte. Os números são do Boletim Casa Rural, elaborado pelo Sistema Famasul.
De acordo com informações da Carta de Conjuntura da Semadesc, de janeiro a dezembro do ano passado, o Estado exportou 257 mil toneladas de carne bovina fresca, um aumento de 33,6% em relação a 2023, que fechou com 192,7 mil toneladas.
Pelo volume de carne bovina exportada, MS faturou 8,6% a mais em 2024 e fechou o ano com US$ 1,223 bilhão, contra US$ 915 milhões em 2023.
A China sozinha, conforme a Semadesc, foi o destino de 24,18% de toda a carne bovina exportada por MS em 2024, seguida pelos Estados Unidos (18,42%) e pelo Chile (14,58%). O Estado exporta carne bovina para quase 70 países.
ACOMPANHAMENTO
A alta do dólar no fim de 2024 deve pressionar os custos da pecuária, mas a produção de carne bovina no Brasil segue firme, ainda que em ritmo mais moderado, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP).
Nesse cenário, a eficiência produtiva se torna essencial para manter a rentabilidade no campo – o quanto mais ajustada for a gestão, melhores serão os resultados. Uma ferramenta que pode auxiliar nisso é o acompanhamento técnico no abate, que auxilia os produtores a entenderem melhor seus números e ajustarem a produção.
Por meio de gráficos e planilhas detalhadas, os pecuaristas conseguem visualizar índices como rendimento de carcaça, dentição e espessura de gordura, identificando onde podem melhorar – e esses dados fazem a diferença no bolso.
Como explica o veterinário Wender Oshiro, que assessora a produtora Clarice Barbosa Iudice, uma novilha pode perder até R$ 500 em valorização por não atingir o peso ou a cobertura de gordura ideais no momento do abate.
“A consultoria nos mostrou que 98% dos mais de 900 animais abatidos em 2023 atenderam ao padrão da associação, garantindo total bonificação. Conseguimos enxergar com precisão se é necessário investir em mais terminação, melhorar a alimentação ou ajustar a estratégia de venda”, afirma.
Coordenador técnico da Associação Sul-Mato-Grossense de Produtores de Novilho Precoce (Novilho Precoce MS), Eduardo Moura reforça que o acompanhamento do abate é um processo que exige atenção aos detalhes.
“O maior desafio é garantir que todo o trabalho feito no campo resulte em um produto de qualidade no frigorífico. Pequenos ajustes podem evitar perdas indesejadas. Estamos atentos a cada detalhe, para que o pecuarista tenha segurança nos números e maximize seus ganhos. No fim, somos os olhos do associado dentro do abate”, destaca.
Além do acompanhamento técnico, os pecuaristas da Novilho Precoce MS têm acesso a uma balança exclusiva da associação, garantindo mais transparência e maior controle sobre o peso real dos animais comercializados.
“Muitos produtores não têm acesso a essas informações de forma organizada e acabam perdendo dinheiro sem perceber. Com os dados detalhados do abate, conseguimos direcionar melhor as decisões do associado dentro da fazenda, garantindo um gado mais bem-acabado e um retorno financeiro maior”, cita o superintendente da associação, Alexandre Guimarães.
Correio do Estado