As ações contínuas de identificação (diagnóstico), frequência, distribuição geográfica local, regional e mundial das doenças têm como finalidade conhecer para atuar antecipando-se à problemática com o objetivo da tomada de decisão quanto às medidas de controle e prevenção. A ocorrência e a dinâmica de disseminação de doenças em populações animais são influenciadas por uma combinação de fatores, incluindo o contexto epidemiológico, a execução de pesquisas científicas direcionadas, análises detalhadas sobre a magnitude das enfermidades e seu potencial de transmissão, avaliações de risco e a implementação de sistemas de monitoramento contínuo. É fundamental considerar as características específicas da população-alvo, incluindo espécies animais envolvidas, fatores ambientais e biológicos, bem como a delimitação de áreas geográficas e períodos temporais que possam influenciar os padrões de ocorrência e propagação.
O monitoramento da ocorrência das doenças visa fornecer dados de notificações e movimentações com intuito de recomendar ações de prevenção aplicadas para os animais domésticos, aquáticos, silvestres e para os seres humanos. A Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) disponibiliza, por meio de seu portal oficial, o Sistema Mundial de Informação sobre Saúde Animal (WAHIS). Este sistema constitui uma base de dados abrangente, integrando informações provenientes de países membros e não membros, relacionadas às notificações e comunicações realizadas pelos Serviços Veterinários Oficiais. O WAHIS reúne dados epidemiológicos sobre a ocorrência de enfermidades incluídas nas listas terrestre e aquática, abrangendo tanto animais domésticos quanto silvestres. Além disso, contempla informações sobre doenças emergentes, zoonoses de relevância para a saúde pública, bem como enfermidades específicas que afetam caprinos e ovinos.
No Brasil, o Sistema de Informação em Saúde Animal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) envia semestralmente informes a OMSA sobre a ocorrência de doenças animais no país. De acordo com esses dados, no ano de 2023, as enfermidades diagnosticadas em caprinos e ovinos incluíram o aborto enzoótico das ovelhas (clamidiose, uma zoonose), a agalaxia contagiosa, a artrite-encefalite caprina, a epididimite ovina e a maedi-visna. Destaca-se que as seguintes doenças nunca foram registradas no país: doença de Nairobi, peste dos pequenos ruminantes (PPR), pleuropneumonia contagiosa caprina e varíola ovina e caprina.
Essas doenças de caprinos e ovinos, conforme seu agente causal, têm particularidades e características distintas de transmissibilidade, patogenicidade, capacidade de disseminação entre espécies e de manutenção em hospedeiros e vetores. De acordo com as condições encontradas nos ambientes pelo agente, culmina-se com a sua permanência e a facilidade ou não do seu potencial de mobilidade.
Vale lembrar, que outras doenças apresentam características semelhantes às citadas anteriormente e afetam múltiplas espécies, incluindo os caprinos e ovinos, tais como: febre aftosa, febre do Vale Rift, raiva, febre do Q, língua azul, paratuberculose e toxoplasmose, algumas consideradas zoonoses.
Três dessas enfermidades, que não são encontradas no Brasil, causam um grande impacto na produção, ocasionando um alerta as instituições, a PPR, a varíola caprina e a febre do Vale Rift. Segundo a WAHIS, estas enfermidades estão se disseminando por vários países, sendo a PPR notificada na África, Equador, Oriente Médio, Índia, Ásia, Tibete, Marrocos. E em 2024, na Grécia, Romênia, China, Geórgia, Tunísia, Turquia, Serra Leoa e Uganda. Enquanto a varíola caprina, na Grécia; e a febre do Vale Rift, no continente africano, em 2024.
Brasil, um país tropical, apresenta alta complexidade quanto ao contexto de clima e ambiência pelos diferentes biomas. A presença de vetores e hospedeiros frente à quebra de barreiras entre animais e humanos é um risco constante, considerando a movimentação de pessoas e a presença de animais silvestres e selvagens, além do comércio de produtos e alimentos, entre os países. Portanto, é necessário adotar estratégias de vigilância interna e externa, em relação à ocorrência e movimentação dessas enfermidades, como fator e desafios sanitários para a caprinocultura e ovinocultura brasileiras.
As mudanças climáticas globais estão provocando elevação nas temperaturas terrestres e aquáticas, resultando em perturbações significativas na biodiversidade e impactando negativamente os setores da agricultura, pecuária e a saúde única (One Health). As alterações nos padrões de precipitação, seja por aumento ou diminuição, contribuem para a contaminação dos recursos hídricos e promovem a proliferação de vetores de doenças infecciosas. Esses fatores levam ao surgimento e à reemergência de enfermidades em diversos países, incluindo, mais recentemente, a ocorrência da febre do Oropouche no Brasil.
Diante dessa realidade, faz-se urgente a realização de pesquisas relacionadas à saúde única sobre os temas: desenvolvimento e validação de métodos rápidos e sensíveis de diagnóstico das enfermidades entre os animais e o ser humano; e produção de vacinas, de fármacos e de matéria prima refinada para insumos.
Antecipar o reconhecimento das enfermidades requer atenção e foco na ocorrência e movimentação delas no país e no mundo. Conhecer as doenças dos caprinos e ovinos, reunir informações e dados identificando países, animais envolvidos e diagnósticos utilizados, servirá como subsídio para oferecer, em tempo rápido, as respostas e ações coordenadas em saúde única envolvendo a educação sanitária para diferentes públicos.