O Cirurgião Cardiovascular Pediátrico Guilherme Viotto, e a Cardiologista e Ecocardiografista Pediátrica Camila Lino Martins, Estiveram na Rádio Nova Difusora FM 90.3 para falar sobre a cardiopatia congênita, uma doença do coração que está presente desde o nascimento da criança.
Os dois realizaram a cirurgia de alta complexidade na pequena Maria Helena, com apenas duas horas de vida. Ela é neta do radialista Cícero Choque. Foi um procedimento para retirada de um tumor no coração da recém-nascida.
Na entrevista, além de falar sobre cardiopatia congênita, eles revelaram que o planejamento para a cirurgia de Maria Helena foi intenso, pois tiveram de deixar duas salas cirúrgicas funcionando simultaneamente, uma para o parto e outra para a cirurgia cardíaca. Foi mobilizada uma equipe multidisciplinar de excelência, formada por obstetras, neonatologistas, cardiologistas pediátricos e cirurgiões cardíacos do corpo clínico do Hospital da Cassems, em Campo Grande (MS).
Os médicos ressaltam que cada segundo foi crucial, pois operar um coração tão pequeno e delicado é um desafio técnico gigantesco. Dizem ainda que se tratou de uma experiência profundamente emocional.
Graças ao trabalho impecável de toda a equipe e à força da pequena paciente, a cirurgia foi um sucesso e o desfecho não poderia ser melhor pois dias antes do Natal do ano passado, Maria Helena voltou para casa nos braços dos pais, para celebrar a vida ao lado de sua família.
Entenda a Cardiopatia Congênita
Durante a entrevista, Guilherme Viotto explicou que a Cardiopatia Congênita são “defeitos”, tanto na estrutura, quanto na função do coração que estão presentes desde o nascimento. “Ou seja, durante a formação do coração, já na barriga da mãe, há um erro da embriologia, em que a criança, ao nascimento, vai ter algum problema, vai ter alguma alteração, tanto da forma, quanto na função do coração”
“Há cardiopatias que nós diagnosticamos logo ao nascimento, geralmente essas cardiopatias diagnosticadas no nascimento são aquelas de maior complexidade, que vão ser tratadas com uma série de urgências. Também temos cardiopatias que vão se apresentar com sinais e sintomas ao longo da vida. Há cardiopatias congênitas, por exemplo, que nós diagnosticamos no paciente adulto, com até 60 anos de idade, a qual ele conviveu a vida inteira e os sintomas só surgiram no início da velhice”, detalho Guilherme.
O médico acrescentou que, geralmente, a maioria das cardiopatias hoje já pode ser detectada com ecocardiograma fetal, ou seja, a análise do coração do feto dentro da barriga da mãe. “Nós conseguimos fazer uma triagem de imagem e já diagnosticar dentro da barriga aquela criança que tem algum problema na forma ou na função do coração”, ressaltou.
Já a Dra. Camila Martins pontuou que é muito importante divulgar que a ecocardiograma fetal já existe há muitos anos. “Uma portaria do Ministério da Saúde publicada em 2023 determinando que todas as mulheres gestantes deveriam realizar um ecocardiograma fetal porque é sabido que as cardiopatias congênitas são as malformações congênitas mais frequentes”, alertou.
Seguiu explicando que, quando se faz um ecocardiograma e se diagnostica uma alteração no coração de um bebê, é possível mudar o prognóstico daquela doença, como aconteceu com a Maria Helena. “Nós fizemos o diagnóstico intra-útero e nós nos programamos para o parto, quando ela nasceu da melhor maneira e em poucas horas de vida a gente resolveu o problema”, recordou, lembrando que pela Sociedade Brasileira de Cardiologia o exame deve ser realizado entre 24 e 28 semanas de idade.
A partir de 18 semanas, conforme a medica explicou, é possível fazer o ecocardiograma fetal. “Temos de realizar um ecocardiograma semanal, seriado, para ver se esse paciente não pode evoluir com uma coisa que a gente chama de bloqueio gastroventricular total. A frequência cardíaca de um feto vai variar entre 120 e 160, dependendo da agitação do paciente”, disse
Camila Martins ressaltou que a cardiopatia congênita pode evoluir para um bloqueio átriopelicular total, que vai ter uma frequência de 60. “Então, um bebê com uma frequência cardíaca de 60 é muito baixo e a gente tem de acompanhar”, reforçou, recomendando que, quanto mais precoce fizer o ecocardiograma, mais rápido será possível realizar a intervenção cirúrgica e modificar a sobrevida da criança.
Recomendações
Guilherme Viotto explicou que as gestantes com diabetes, ou as que tenham alguma doença autoimune, ou ainda mães que tenham cardiopatias congênitas, têm uma porcentagem maior de chance de ter um filho com o mesmo problema. “Então, muitas vezes, o feto tem suspeita de uma síndrome genética e, por isso, é mandatório a realização de um ecocardiograma”, argumentou.
Ele completou que, antigamente, existiam indicações formais para a realização do efetocardiocoronafetal, pois 90% das gestantes não tinham nada de comorbidade. “Então se você pega um casal jovem que fez todos os exames, ainda assim, um em cada 100 vai ter uma cardiopatia congênita e muitas vezes é idiopática. Por que é idiopática? Porque a mãe e o pai não têm nenhum fator de risco. Os fatores, eles aumentam um pouco, porém, claro, tem síndrome genética, mas a maioria das crianças cardiopatas, os pais são normais”, falou.
O médico informou que existem vários tipos de cardiopatias. “A gente classifica de um modo geral em cardiopatias simples e cardiopatias complexas. E cardiopatias simples são aquelas, comunicação interatrial, comunicação ventricular, persistência do canal arterial, e aí a gente vai progredindo até os extremos, onde a gente pode ter cardiopatias que, por exemplo, só tem metade do coração formado. São aqueles pacientes que a gente chama de univentriculares”, explicou.
Então, conforme o especialista, o paciente pode ter só o lado direito do coração formado ou só o lado esquerdo do coração formado. “E aí são cardiopatias mais graves, que como eu citei anteriormente, o diagnóstico intraultra ajuda muito a gente, porque eu já sei que aquela criança provavelmente no período neonatal vai precisar de uma intervenção cirúrgica, seja ela qual for, pois temos vários espectros dessas cardiopatias, dessas complexas, que nós chamamos, a gente pode ter associação entre elas”, detalhou.