Cinco décadas. Cinquenta anos na história recente do mundo que trazem o peso de grandes revoluções, transformações globais e um novo jeito de ver e pensar o planeta. Ao longo deste tempo, que vai muito além do cronológico, tudo se modificou. E a relação entre duas Nações, não é meramente uma parceria comercial. Assim é a relação Brasil e China através do tempo.
Nos últimos 50 anos, a China mostrou ao mundo seu potencial com uma verdadeira revolução tecnológica. Enquanto isso, o Brasil protagonizou uma importante revolução na agricultura tropical, intensificando a produção de alimentos, quando partimos de um incremento de 140% na área agricultável, mas registramos um salto de 580% em produtividade.
Ao passo que o mundo se transformava, as relações sino-brasileiras também ganharam um novo formato. De 1974 para cá, poucos são aqueles que poderiam prever a importância dos laços entre Brasil e China para o mundo. Nas primeiras duas décadas, China e Brasil protagonizaram a primeira “parceria estratégica” firmada entre países em desenvolvimento. Foram menos de 10 anos até que se tornasse uma “parceria estratégica global”. Em 2004 foi criada a Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban), mais uma prova do forte relacionamento entre essas duas Nações continentais.
Gigante em produção de tecnologia e em população, a China está presente no dia a dia dos brasileiros das mais diversas maneiras: nos automóveis, nas telecomunicações, até na nossa cultura. Da mesma forma, o Brasil passou a fazer parte do cotidiano chinês. Nós, que somos também gigantes na produção de alimentos, temos orgulho de produzir com a mais alta qualidade e sustentabilidade, atendendo aos requisitos do público consumidor mais rigoroso do mundo: as nossas famílias.
A parceria que cresceu ao longo das décadas é ilustrada em números e, neste sentido, a agropecuária exerce um papel fundamental. Enquanto o intercâmbio saltou de cerca de US$ 2,3 bilhões, em 2000, para US$ 66,3 bilhões, em 2015, com um aumento médio de 29% a cada ano, quando observamos apenas o comércio dos produtos agropecuários, podemos ver o peso desta relação.
Em 1999, quando a relação Brasil – China chegou à primeira metade deste ciclo comemorado neste ano, as exportações dos produtos da agropecuária brasileira responderam por U$ 320,41 milhões, sendo a soja o principal produto. Pouco tempo depois, na comemoração dos 30 anos das relações sino-brasileiras, a balança comercial do agro registrou US$ 2,962 bilhões nas exportações dos produtos brasileiros, especialmente a soja.
E a grandeza dessa evolução não para por aí. No ano passado, um novo recorde: US$ 60,21 bilhões de produtos da agricultura e da pecuária brasileira alimentaram os chineses. O complexo da soja continua sendo o principal produto brasileiro na China, respondendo por U$ 39,18 bilhões em 2023.
Ao crescimento estrondoso da parceria comercial, podemos observar que a nossa soja, sempre presente, está cada vez mais cedendo espaço a produtos diversos da agropecuária brasileira. E sabe como isso acontece?
No Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil, o investimento na Defesa Agropecuária é constante. São padrões rigorosos, atualização constante, tanto técnica quanto legislativa, por meio das regulamentações, para que o produto brasileiro seja o melhor alimento para as famílias do mundo todo.
Alia-se a isso a ciência, a pesquisa, e a tecnologia desenvolvidas e constantemente aperfeiçoadas pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Mais que nas relações comerciais, nestes 50 anos das Relações Brasil – China, podemos comemorar a parceria no intercâmbio de conhecimento.
Foi uma grande satisfação encontrar na China Agricultural University (CAU), o professor Luiz Gustavo Nussio, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP), principal instituição de ensino superior do Brasil na área do agro, e, da mesma forma, saber dos alunos chineses que estudam no Brasil. Isso, fruto do acordo CAU-USP Joint College, firmado em 2022 para aprofundar a cooperação sino-brasileira em educação, ciência e tecnologia em ciências agrárias.
Este é um dos exemplos de como, ao passar dos anos, as Relações Brasil – China vêm se intensificando para muito além de parcerias comerciais. Juntos, nossos países desempenham papel fundamental no século XXI e na formação geopolítica para os próximos anos. E, neste sentido, a aproximação científica, a cooperação técnica, é essencial.
Afinal, a parceria é uma via de mão dupla. As qualidades e especificidades de cada país produzem conhecimento técnico que, compartilhado mutuamente, pode produzir uma revolução sem precedentes na história recente do Planeta.
Comemoramos estes 50 anos de parceria num momento muito especial. A volta do governo Luiz Inácio Lula da Silva à presidência do Brasil dá um novo tom a esta data. Depois de vivenciarmos um triste momento de fragilidade numa relação tão consolidada entre os países, a retomada dos laços fraternais mostra que o que se constrói em bases sólidas, com os devidos cuidados, tende a se edificar. Tanto que agora já estudamos a realização das operações comerciais do agronegócio brasileiro diretamente na moeda chinesa. Mais um passo rumo ao avanço das relações entre os países.
E assim como a troca de conhecimento, de expertise, de desenvolvimento conjunto das ciências agrárias, vem fortalecendo cada vez mais a parceria Brasil – China, o impacto das revoluções das últimas décadas no mundo exigem medidas cada vez mais austeras e globais.
A sustentabilidade já é e vai ser ainda mais a marca da agropecuária brasileira. Com a demanda crescente do mundo por segurança alimentar e nutricional, podemos e vamos intensificar a produção de alimentos no Brasil.
Desenvolvemos, no Ministério da Agricultura e Pecuária, e apresentamos em primeira mão na China, o Programa de Recuperação e Conversão de Pastagens de baixa produtividade. Quando iniciamos a revolução da produção de alimentos que nos fez aumentar a produtividade sem avançar em novas áreas, mostramos ao mundo que sabemos cultivar com práticas sustentáveis.
O Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas em Sistemas de Produção Agropecuários e Florestais Sustentáveis (PNPCD), oficialmente lançado pelo governo brasileiro em dezembro de 2023, nos ajuda a acelerar a nova fase da revolução na produção de alimentos para o mundo.
Já reconhecido como um dos maiores produtores do Planeta, o Brasil incorporou, nos últimos 50 anos, 40 milhões de hectares de áreas agricultáveis. Com base no estudo da Embrapa, é possível ampliar, no mesmo patamar, a área de plantio e cultivo brasileira.
Isso significa que enquanto muitos países apostam em frear ou diminuir suas áreas de plantio, o Brasil poderá, praticamente, dobrar sua área agricultável. São 40 milhões de hectares de pastos de baixa produtividade que têm alta aptidão para o cultivo de alimentos. Além de aumentar consideravelmente sua área de produção sem avançar sobre as áreas preservadas do país, contribuindo substancialmente com a segurança climática do planeta, o Programa de Recuperação e Conversão de Pastagens ainda conta com práticas de recuperação do solo degradado de forma a reduzir, neutralizar e até sequestrar as emissões de carbono na atmosfera.
Sustentabilidade: este é o caminho da revolução em curso. A revolução em que países parceiros mostram ao planeta que cada Nação tem seu protagonismo e, unidas, podem liderar a geopolítica da diplomacia das diferenças que se complementam, da parceria motivada pela troca mútua e crescimento conjunto.
Brasil e China: Que os próximos 50 anos sejam revolucionários!
Carlos Fávaro – ministro da Agricultura e Pecuária do Brasil